O livro Gomorra, de Roberto Saviano, é excelente. Conta parte da história da máfia local detalhadamente, fruto da observação meticulosa de quem vivenciou o cotidiano da criminalidade na cidade italiana. Após ler o premiado livro, fui a Nápoles. Nem cheguei perto dos bairros mais problemáticos, no subúrbio le corbusiano da cidade. Mas a presença da máfia é percebida em qualquer lugar. Alguns pontos são extremamente ricos, outros, pobres como em algum país em desenvolvimento. Há tráfico de drogas em várias partes, e a sensação de que se está sendo observado todo o tempo é incontrolável. Passamos por algumas vielas muito estranhas, onde se podia notar que realmente estávamos sendo observados. Numa delas, mesmo antes de chegarmos ao fim da rua sem saída, fomos avisados por três senhoras, que conversavam sentadas num banco à frente de um apartamento minúsculo no térreo do edifício, que deveríamos voltar. Também demos uma volta pelos arredores da estação central de trem da cidade. Tive a sensação de estar em qualquer parte do centro de São Paulo, só que muito mais pobre. Barracas com todos os tipos de produto Made in China, lojas muito similares às da degradada região paulistana, e o que mais chamou minha atenção: o Robert era, claramente, a única pessoa branca em todo o percurso. Disse a ele: “percebe que estamos em uma área diferente, onde não há turistas, apenas locais e imigrantes, e vc é o único branco aqui?” Procuramos um café para sentarmos e observarmos o vai-vem da rua, mas não encontramos nenhum, apenas um bar muito cheio, sem mesas no passeio. Decidimos, então, continuar a caminhada. Agora, estou assistindo à série inspirada no livro, que é tão boa como a obra que lhe deu origem. As organizações criminosas, tanto em países ricos quanto nos pobres, têm as mesmas configurações perversas, se aproveitam da vulnerabilidade das pessoas pobres, da falta de ética e da corruptibilidade de políticos, policiais, juizes e empresários, e do poder da violência para conseguirem o que querem. Assustador. Por mais que se tente erradicar esse mal, pouco será mudado enquanto não houver justiça social e punições a todos os envolvidos nessa infinita teia criminal.
Pelas ruas napolitanas
