Certa vez, em Londres, fui a uma festa num clube famoso de Brixton, uma das áreas mais violentas da cidade, onde havia as melhores baladas londrinas da época, em 2001. Terminada a festa, às 6 da manhã, eu e um casal de amigos fomos para Camden Town, o bairro mais alternativo da capital britânica. Pegamos um táxi e, quando já estávamos quase chegando, um outro carro se chocou ao que estávamos. A garota que estava conosco começou a passar mal, efeito de uma mistura de álcool com nervosismo. O motorista do táxi começou a discutir com o do carro que havia nos atingido. Não estávamos com paciência para isso, pagamos a corrida e fomos embora. Os dois motoristas começaram a reclamar, pq teríamos de testemunhasr à polícia. “Não naquele dia”, disse o outro amigo, porque estávamos indo para uma rave, e saímos correndo até perdermos de vista os motoristas. Até então, estas festas já estavam incorporadas ao mainstream da vida noturna de Londres. Pensei que seria mais uma delas. Quando chegamos ao local, a grande surpresa. Não me lembro exatamente onde foi, mas foi num desses milhares de espaços alternativos debaixo dos viadutos das linhas de trem e metrô da cidade. A entrada era apenas uma portinha branca, que tivemos de tocar a campanha e esperar até que a abrissem. Nada parecido com as baladas que atraem milhares de pessoas aos clubes londrinos. Ao ingressarmos, levei um susto enorme, numa mistura de estranheza e fascinação. Era praticamente impossível ver qualquer coisa, somente vultos e luzes passada diante de nossos olhos. Uma escuridão total, pessoas por todos os cantos, dançando, andando, vomitando ou, simplesmente, sentadas nos corredores conversando, com se estivessem em algum café de West End. Um labirinto, onde havia várias salas pequenas, com diferentes DJs tocando músicas pesadíssimas. Tudo que se podia ver era o palco, iluminado por lasers, típicos dessas baladas, e os acessórios e roupas fosforecentes da maioria dos presentes. Éramos os únicos, creio, que não estavam vestindo algo colorido e iluminado nem tínhamos cabelos azuis, verdes ou laranja. Um ambiente pra lá de inusitado, e as pessoas pareciam estar numa alucinação coletiva. Não parávam sequer um minuto. Ir ao banheiro foi uma tarefa homérica, filas demoradas por causa de pessoas passando mal ou, simplesmente, fazendo sexo nas cabines. Tudo que era quase normal na vida noturna de Londres, só que mais colorido e intenso. Alí ficamos, tomamos mais umas, zanzamos pelos corredores e pistas, dançamos bastante e, no começo da tarde, por volta das 13 hrs, saímos do local e fomos para casa. A festa, no entanto, parecia que nunca iria acabar. Quando perguntei ao meu amigo que festa era aquela, ele se limitou a responder: uma rave que não é anunciada. Acontece de surpresa, ninguém sabe do local antes de a festa começar. A comunicação é por sms e só aparece lá quem é convidado, para evitar que haja inspeção, pois não tem licença para funcionar, e para que pessoas indesejadas não entrem. A mais underground de todas as baladas que pude presenciar em Londres. Este tipo de festa nunca morreu, só ficou clandestina, longe dos olhos das autoridades e da mídia
Under-underground
