A capital cubana sempre foi uma das grandes estrelas das Antilhas e, com a gradual abertura que vem ocorrendo na ilha desde a morte d’El Comandante Fidel Castro, o número de visitantes só aumenta, marcando um renascimento da cidade ao turismo internacional. A riquíssima cultura local, sua música e culinária, lindíssima arquitetura, além da simpatia nata dos cubanos têm atraído cada vez mais visitantes de todas as partes do planeta. As ruas do bairro de La Habana Vieja, o centro histórico da cidade, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1982, estão sempre abarrotadas de gente, tornando Havana ainda mais vibrante. Uma cidade colorida, com suas construções do período colonial e do começo do século passado, dos carros antigos que transitam por todas as partes, sua contagiante alegria, salpicada por música em todos os cantos e pelos largos sorrisos dos cubanos.

A infraestrutura da cidade foi pouco alterada ao longo dos anos desde a revolução cubana. Como em outras capitais latinoamericanas, algumas coisas mudaram para favorecer o uso de automóveis, como a retirada dos bondes para alargamento das vias. Com excessão destas poucas intervenções viárias, a cidade ainda é perfeita para se caminhar por suas ruas estreitas e apreciar sua riquíssima arquitetura, considerada um dos maiores conjuntos coloniais da América Latina, com mais de 300 construções de valor histórico. Muitas delas, no entanto, estão em péssimas condições, muitas abandonadas por causa do risco de desabamentos, e tantas outras sendo restauradas para dar lugar a hotéis e hospedarias particulares, num processo lento de gentrificação. Com o boom de visitantes que a cidade vem experimentando desde 2015, ano em que os vizinhos Estados Unidos passaram a permitir que seus cidadãos visitem a ilha, o turismo vem crescendo a cerca de 13% ao ano, segundo dados do governo cubano, e alterando a vida dos havaneiros.

O porto de Havana, antes destinado a navios mercantis, está sendo desativado para este fim e recebe, agora, grandes navios de cruzeiros, responsáveis, em parte, pela enorme quantidade de turistas, principalmente nos fins de semana. Os pontos mais movimentados do bairro de La Habana Vieja, como as praças Vieja, de Armas, local onde os conquistadores espanhóis fundaram a cidade, em 1519, e a da Catedral concentram parte do burburinho. Como consequência, diversos restaurantes, cafés, bares e Paladares, os restaurantes privados que pipocam por toda a cidade, além de muitos hotéis e Casas Particulares, apartamentos privados alugados para visitantes, estão nesta parte da cidade. Há muito que se ver por ali. Dos antigos palácios reais a fortalezas que defendiam Havana de ataques de piratas e outras nações, igrejas, praças e monumentos que contam a conturbada história da ilha.

É, também, nesta pequena área da capital que se encontram os mais famosos restaurantes locais: La Bodeguita del Médio e La Floridita, onde nasceram os coquetéis Mojito e Daiquiri, respectivamente. Atraem curiosos de todas as partes por serem alguns do locais preferidos do escritor estadunidense Ernest Hemingway, um dos ilustres moradores de Havana. Conseguir uma mesa nestes locais é tarefa para quem tem paciência, devido à grande procura e ao longo tempo de espera, principalmente à noite. Há muitas outras atrações em La Habana Vieja que não se resumem a comida e bebida. Alguns dos mais importantes museus da cidade, como o do Rum, do Chocolate e o de Autos, o castelo da Força Real, a primeira fortaleza construída na entrada da baía de Havana, além da rua mais movimentada do bairro, a Obispo, com seu diversificado comércio.
Ao se afastar das atrações mais turísticas, no entanto, o emaranhado de ruas do bairro revela o outro lado de Havana, mais popular e local, onde se podem ver pequenos estabelecimentos comerciais voltados, principalmente, a seus moradores. De janelas e portas de apartamentos são vendidos todos os tipos coisas, de cafés a pizzas, de lembrancinhas a produtos especializados para a santeria, a umbanda cubana, e, claro, botecos tão simples que nem todos os turistas entram, mas são, porém, os locais onde se pode ter maior contato com os moradores do bairro e ouvir suas experiências, lamentos, medos e esperanças de um futuro incerto.

No limite entre La Habana Vieja e o Centro, encontram-se alguns dos cartões portais mais importantes da capital cubana, como o Museu de la Revolución e o Memorial Granma, imperdíveis para quem deseja conhecer um pouco do movimento que garantiu a independência definitiva do país e ver o iate que transportou os revolucionários do México a Cuba, o Museu de Belas Artes e o Capitólio Nacional, uma cópia do edifício de Washington, nos Estados Unidos, a antiga fábrica de charutos Partagás, entre tantas atrações. Dividindo as duas áreas da cidade está o Paseo de Martí, ou Prado, um passeio bastante largo e arborizado, e um dos locais preferidos pelos moradores durante o fim de semana. Ao longo do bulevar estão algumas das construções mais imponentes de Havana, muitas em péssimo estado de conservação ou em ruínas, outras sendo restauradas, mas todas com de uma beleza que impressiona quem passa por ali. Na ponta oposta ao Capitólio, encontra-se o Monumento Máximo Gomez, inaugurado em 1935 em homenagem a um dos heróis libertadores de Cuba, já na margem do canal de entrada da baía de Havana.

A partir do lado oeste do Capitólio, fica o Centro, outra parte bastante pobre da cidade, com suas belas construções. Grande parte delas, de tão decadente, já não serve mais como moradia, por causa do risco de desabamentos, assim como em Habana Vieja. Mais parece uma extensão do centro histórico, com a mesma estrutura de ruas e arquitetura bastante similar. Ali, porém, já não se vê tantos turistas e pode-se perceber o caráter mais local do bairro. Pequenos restaurantes dão lugar aos maiores e mais movimentados dos bairros vizinhos. Os preços também são bem diferentes. Enquanto em Habana Vieja os preços variam entre 7 CUC e 20 CUC (o peso convertível, uma das moedas locais, ao lado do peso cubano), no Centro, encontram-se as mesmas ofertas por 3 CUC, em ambientes mais simples e com porções maiores. É nesta parte de Havana que está o famoso mercado de San Rafael, um dos mais conhecidos por sua variedade de frutas e legumes, todos provenientes do sistema organopônico cubano. Alimentos produzidos sem agrotóxicos que abastecem o país desde o colapso da União Soviética. Esta foi a maneira encontrada pelo governo comunista de enfrentar a crise instalada após o desaparecimento de seu principal parceiro comercial, de onde importavam quase tudo que consumiam.

A oeste do Centro, está o Vedado, bairro onde vivem as pessoas com maior poder aquisitivo da cidade e, também, um dos locais mais movimentados de Havana. Suas ruas planejadas, identificadas por números e letras, ao invés de nomes, e bastante arborizadas hospedam algumas das construções mais belas da cidade. A avenida 23, também conhecida como La Rampa, devido ao suave declive onde foi construída, é repleta de lojas, bares, cafés, restaurantes, casas noturnas, cinema. É o ponto mais frequentado pelos moradores de Havana à noite. Outros destaques são a avenida Paseo, uma espécie de avenida Paulista, porém, ainda com seus antigos palácios coloniais, onde viviam os antigos barões do açúcar, e local do mais icônico símbolo de Havana, a praça da Revolução, com seu imponente Monumento a José Martí e as imagens de Che Guevara e Camilo Cienfuegos, além do Teatro Nacional de Cuba. Outra belíssima avenida é a dos Presidentes, com estátuas de ex-presidentes cubanos e latinoamericanos. Alguns dos hotéis mais famosos de Havana, como o Nacional, o Havana Libre e o Riviera (fechado para reforma), além de embaixadas, incluindo a dos Estados Unidos, estão neste bairro, um das mais novos da capital cubana, planejado e construído no início do século 20.

Um dos grandes destaque de Havana é a avenida Antonio Maceo, mais conhecida como El Malecón. É a principal via local e margeia praticamente toda a parte costeira da cidade, conectando La Habana Vieja, o Centro e o bairro Vedado, os mais movimentados da cidade. São 7 km de extensão por onde pulsa a vida na capital da maior ilha do mar do Caribe. Amada pela população local, fascinante aos olhos dos visitantes, essa longa avenida é o ponto alto de qualquer passeio por Havana. Dalí se pode observar o poentes e nascentes, tanto do Sol quanto da Lua, admirar a bela arquitetura, mesmo dos já despedaçados edifícios, divertir-se com os locais, ou se locomover nos famosos carros antigos de Havana. Praças e monumentos dão um charme especial ao longo da avenida. Tudo passa por El Malecón, que está sendo revitalizado, vagarosamente. Durante a noite, é o ponto de encontro mais movimentado da cidade.
É no Malecón, também, que os cubanos criaram o Monumento Anti-Imperialista José Martí, bem na frente da embaixada dos EUA. Um enorme pavilhão, com dezenas de mastros que quase escondem o prédio estadunidense e, bem na frente, a frase: “Patria o muerte! Venceremos!” Uma provocação que os funcionários da embaixada veem todos os dias e um claro sinal de que os cubanos nunca mais aceitarão as interferências promovidas pelo vizinho no passado, quando o país quase se tornou uma colônia norte-americana.
Do outro lado do canal de entrada da baía de Havana estão os castelos dos Três Reis do Morro, a fortaleza de São Carlos da Cabaña, o parque do Cristo de Havana e o museu Cabana de Che Guevara, local onde o revolucionário se instalou ao chegar à cidade, vindo do interior do país, e algumas dos equipamentos utilizadas pelos cubanos durante a Crise dos Mísseis de Cuba, entre os EUA e a URSS, quando o país comunista euroasiático instalou equipamentos soviéticos em Cuba para defender a ilha de um possível ataque do vizinho capitalista. Desta imensa encosta tem-se uma excelente vista de praticamente toda a área costeira da capital. O acesso ao local, passando pelo túnel debaixo da baía, pode ser feito por carros e, normalmente, está repleto de Old Timers trazendo turistas do outro lado da cidade.

Um país, duas moedas – Cuba passou a ter duas moedas oficiais em 1994, uma medida do governo para eliminar a circulação do dólar estadunidense no país. Atualmente, tanto o peso cubano conversível (CUC) como peso cubano (CUP) são aceitos em praticamente todos os estabelecimentos comerciais da ilha. Essa dualidade monetária chega a ser um tanto desconfortável, já que muitos lugares apenas têm o preço em CUP. É necessário ter uma tabela com os valores convertidos, ou ser bom de matemática para fazer as contas na hora. O peso cubano também é aceito e, em algumas situações, negocia-se com as duas moedas. Pode-se pagar em CUC e CUP ao mesmo tempo, uma completando a outra, o que é fácil de confundir. É preciso prestar muita atenção nesta diferença de moedas para não ser enganado por comerciantes sem escrúpulos, que aproveitam da situação para cobrarem o quanto quiserem.

Aliás, este é um ponto a ser observado em Havana. Diversos lugares, principalmente os pouco frequentados por turistas, não têm preços à mostra. Assim, os atendentes cobram o preço que quiserem, sem o menor problema. Uma cerveja nacional, por exemplo, que tem o preço normal de 1 CUC em quase todos os lugares, chega a ser cobrada por 2 CUC ou mais. Ficar atento a isso é extremamente importante, para não ser enganado. Na maioria dos locais frequentados por turistas, no entanto, isso é menos comum, já que têm os valores em cardápios ou à mostra. Na dúvida, perguntar o preço em CUC é mais que recomendável.
Outro fator importante a ser notado é o fato de algumas pessoas, especialmente em La Habana Vieja e no Centro, sempre abordarem os turistas. Querem vender algo no mercado negro, de rum a charutos, sempre com a mesma história de que, se comprarem deles, o valor será mais barato que nas lojas controladas pelo governo cubano. Outros chegam com uma fala mansa, muito amigáveis e, no fim, sempre pedem um trocado por algum motivo. No começo, isso pode até parecer divertido, mas chega a ser um grande incômodo, porque são muitas pessoas agindo assim. O mesmo acontece com as conhecidas cubanas vestindo roupas tradicionais do país. Abordam os turistas, são muito simpáticas, perguntam se querem tirar fotos e, logo após, irão cobrar por isso. Não é o caso, porém, de se evitar qualquer conversa com locais. Aceitam um não, mesmo sem estarem satisfeitos. Exceto no caso das mulheres acima citadas, pois exigem que se pague pela foto. Nem é preciso ter receio de assaltos. Havana é uma cidade bastante segura e roubos não são comuns por lá. É possível caminhar por todos os cantos da cidade com câmeras e celulares sem nenhum problema.
Caso andar não esteja nos planos, há diversas opções de transporte na cidade. Os ônibus, em sua grande maioria, são bastante antigos e em péssimas condições de manutenção. Ver guindastes rebocando estes veículos pelas ruas da cidade não é uma cena muito incomum. Mesmo assim, é uma experiência para os mais aventureiros. Outras opções, mais caras, porém, são aos táxis. Entre eles, as bicitáxis, como o nome diz, em bicicletas que comportam até três pessoas; os amarelos, oficiais; os Old Timers, privados e, sem dúvida nenhuma, o mais interessante de todos; e os clandestinos, muito comuns.

Uma cidade que ainda sofre com o bloqueio imposto pelos EUA, que tem problemas característicos de qualquer país em desenvolvimento, mas que atrai cada vez mais visitantes por seu vibrante estilo de vida, pelo clima agradável durante todo o ano, sua rica cultura e bela arquitetura, além de apresentar uma fascinante história. Havana está se reinventando, ressurgindo no cenário turístico mundial como um dos destinos mais interessantes, lugar que já ocupava antes da revolução cubana, mas que, agora, tem atraído o interesse de redes hoteleiras e empresas de aviação de todo o mundo, aumentando a oferta de voos para quem deseja conhecê-la. Uma metrópole tropical despontando aos olhos do mundo com o mesmo charme de 60 anos atrás. No final da viagem, a sensação de querer voltar é inevitável.
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